sábado, 25 de fevereiro de 2012

Os Barrymore

Existem famílias que se dedicam a um determinado serviço, a uma determinada profissão. E esse é o caso do clã Barrymore...

Tudo começou com Maurice Barrymore. Ele nasceu em 1849, em Amritsar, Punjab, Índia, e era filho de William Edward Blythe e Matilda Chamberlayne. Seu nome verdadeiro era Herbert Arthur Blythe Chamberlayne, e sua mãe morreu no parto.


Quem o criou foi sua tia, Amelia Chamberlayne Blythe, irmã de sua mãe que era casada com o irmão de seu pai. Herbert foi mandado para a Inglaterra, e fez Direito em Oxford. Além disso, gostava de boxe e futebol, destacando-se, nestes esportes. Mas, entre todas estas atividades, ele acabou escolhendo o teatro, escandalizando seu pai. Aos 23 anos (1872) ele posou para seu primeiro retrato teatral, e mudou seu nome para Maurice Barrymore, a fim de não "envergonhar" o pai...

Em 1874, Maurice migrou para os Estados Unidos, e estreou na peça Under the Gaslight, e no ano seguinte estreou na Broadway, onde conheceu a também atriz Georgiana Drew.




Georgiana Emma Drew nasceu em 1856 na Filadélfia, Estados Unidos, e era filha do ator irlandês John Drew (1827/1862) e da atriz inglesa Louisa Lane Drew (1820/1897). Além dos pais, os irmãos de Georgiana também eram atores: Louisa Drew (1852/1888), John Drew Jr. (1853/1927, na foto abaixo) e Sidney Drew (1863/1919).


Foi John Drew Jr. que apresentou Maurice Barrymore para sua irmã Georgie (como era chamada). Os dois logo se apaixonaram e se casaram, em 1876, ele com 27 e ela com 20.


E logo vieram os filhos: Lionel Herbert Blythe (nascido em 1878), Ethel Mae Blythe (nascida em 1879) e John Sidney Blythe (nascido em 1882).


As crianças ficavam com a avó Louisa, enquanto os pais faziam turnês pelos Estados Unidos. Infelizmente, Georgiana morreu em 1893, vítima de tuberculose. Lionel tinha 15 anos, Ethel tinha 14 e John tinha 11 anos. E o pai, Maurice tinha 44 anos... Mas, em 1894, ele casou-se novamente, com Mamie Floyd, o que não agradou Ethel...

Maurice Barrymore morreu em 1905, internado como louco (efeito da sífilis). Tinha 56 anos...


Lionel Barrymore, o filho mais velho de Maurice e Georgiana, começou sua carreira no teatro, atuando com a avó Louisa e com o tio John Drew Jr., ainda na década de 1890. Em 1901 ele estrelou The Second in Command e em 1902 fez The Mummy and the Hummingbird. Ele tinha 24 anos, nessa época. Em 1904, aos 26, casou-se com a atriz Doris Rankin (1888/1946).




Doris era filha do também ator McKee Rankin, e sua irmã Gladys era casada com o tio de Lionel, Sidney Drew. Então, estava tudo em família...Abaixo, Lionel e Doris:




O casal viveu alguns anos em Paris, e depois voltou aos Estados Unidos. Lionel atuou em peças de teatro com seu irmão John (Peter Ibbetson - 1917 e The Jest - 1919) e com Doris (The Copperhead - 1918). Mas ele já havia começado a atuar em filmes desde 1911, quando fez The Battle. Também atuou em The New York Hat (1912) e Friends e Three Friends (1913).


A irmã de Lionel, Ethel Barrymore, estreou na Broadway em 1895, mesmo ano em que foi realizada a primeira sessão de cinema, em Paris, pelos Irmãos Lumière. A sua peça de estréia foi The Imprudent Young Couple, onde atuou com seu tio, John Drew Jr.




Em 1897, Ethel foi para Londres, onde atuou em Secret Service. Depois, em 1898, ela atuou em The Bells e Peter The Great. Sua beleza e talento chamaram a atenção, a ponto de Winston Churchill, então com 24 anos, lhe pedir em casamento (ela estava com 19 anos).




Apesar da recusa, os dois se tornaram amigos. Ethel retornou aos Estados Unidos e, em 1901, estrelou Captain Jinks of the Horse Marines. Em 1905, atuou em A Doll's House, de Ibsen. Abaixo, a atriz em 1901:




 A estréia de Ethel Barrymore no cinema ocorreu em 1914, em O Rouxinol. Seu tio Sidney Drew, e seu irmão Lionel tinham estreado em 1911, e John, o caçula, tinha estreado em 1913. Então, ela foi a última, entre os irmãos, a atuar na sétima arte. E fez 15 filmes mudos, entre 1914 e 1919, mas apenas dois ainda existem: The Awakening of Helena Ritchie (1916, incompleto) e The Call of Her People (1917).




O caçula, John Barrymore, seguiu a carreira teatral, assim como seus parentes. Mas John era o mais "problemático", tendo sido expulso da escola, em 1898 (tinha 16 anos), por ter ido a um bordel. Ele até tentou ser jornalista, mas acabou "cedendo" aos palcos em 1903. Em 1905, já estava atuando em Londres.




Entre 1901 e 1902, John Barrymore tinha namorado a atriz Evelyn Nesbit (1884/1967). Nessa época, ela foi operada. Os dois disseram que era apendicite, mas correram rumores de que havia sido um aborto. Anos depois (1906), Evelyn se envolveu com o arquiteto Stanford White, e este foi assassinado por Harry Thaw K., marido dela. No julgamento, tentaram provar que ela era imoral, e John Barrymore foi chamado para depor. Mas negou que ela tivesse feito o tal aborto...




Neste mesmo ano, John Barrymore esteve em San Francisco, bem na época do terremoto, e fez inúmeros relatos sobre o mesmo, tentando se promover...




Em 1910, John Barrymore se casou com a também atriz Katherine Harris Corri. Os dois atuaram juntos em Nearly A King e The Lost Bridegroom, ambos de 1916. O casamento acabou um ano depois, em 1917...




Em 1918, morreu o primo dos irmãos Barrymore, S. Rankin Drew (1891/1918), durante a Primeira Guerra Mundial. E o pai dele, tio dos três, Sidney Drew, morreu no ano seguinte...


E vieram os anos 20. Lionel separou-se de Doris em 1923, após a perda de duas filhas: Ethel Barrymore II (1910/1910) e Mary Barrymore (1916/1917). Neste mesmo ano, ele se casou com Irene Fenwick (1887/1936). Esse segundo casamento durou até 1936, quando ela morreu. Não tiveram filhos...




Irene havia sido amante de John, e os dois irmãos ficaram cerca de dois anos sem se falar...Nessa época, Lionel trabalhou em The Eternal City (1923), Fifty-Fifty (1925), The Bells (1926, com Boris Karloff), e outros. 


Ethel havbia se casado em 1909, com Russel Grisworld Colt (1882/1959), com quem teve três filhos: Samuel Peabody Barrymore Colt (1909/1986), Ethel Barrymore Colt (1912/1977) e John Drew Colt (1913/1975). O casal separou-se em 1923. Abaixo, a família em 1914:




Em 1926 ela atuou em Camille, seu último filme. Depois disso, trabalhou apenas em teatro até a sua morte, em 1959.


John Barrymore casou-se, pela segunda vez, com a atriz e poetisa Blanche Oelrichs (1890/1950), e com ela teve uma filha, Diana Blanche Barrymore (1921/1960). No cinema, atuou em Dr. Jekyll e Mr. Hyde (1920), Sherlock Holmes (1922), Beau Brummel (1924), The Sea Beast e Don Juan (ambos de 1926). E todos ainda no tempo do cinema mudo. E foi na estréia de Don Juan que John voltou a falar com Lionel...Abaixo, John Barrymore e Blanch Oelrichs:


Em 1925, o casal separou-se, e em 1928 John Barrymore se casou com a atriz Dolores Costello (1903/1979). Esse casamento durou até 1934, e gerou dois filhos: Dolores Ethel Mae Barrymore (1930/) e John Blythe Barrymore Drew Jr. (1932/2004). Dolores trabalhou com John no filme The Sea Beast (1926). Abaixo, John e Dolores:


Em 1927, morreu outro tio de Lionel, Ethel e John, o também ator John Drew Jr.

Em 1931, Lionel Barrymore ganhou um Oscar, por sua atuação em A Free Soul. Em 1932, atuou em Rasputin and The Empress, com Ethel e John. Ainda neste ano, atuou com o irmão John e com a atriz Greta Garbo em Grand Hotel. Em 1937, trabalhou em Captain Courageous, em 1946 apareceu em Duel In The Sun e em 1948 atuou em Key Largo. Mas sua fama se deve ao Doctor Kildare, série que protagonizou nas décadas de 30 e 40, e pelo Sr. Potter, em A Wonderful Life (1946). Lionel Barrymore faleceu em 1954...


John Barrymore separou-se de Dolores Costello em 1934. Em 1936, casou-se com sua quarta e última esposa: Elaine Barrie (1915/2003). Viveu com ela até 1940.


No cinema, fez Moby Dick (1930), Svengali (1931), Grand Hotel (1932), Dinner at Eight  e Topaze (1933). Nessa época, ele já estava tendo problemas com o álcool, inclusive esquecendo suas falas...E veio a falecer em 1942...Abaixo, John Barrymore e Greta Garbo, em Grand Hotel (1932):




Lionel não deixou filhos. Ethel teve três (Samuel, Ethel e John) e John teve outros três (Diana, Dolores e John). 




Samuel Barrymore Colt (1909/1986)


Ethel Barrymore Colt (1912/1977)


John Drew Colt (1913/1975)


Diana Blanche Barrymore (1921/1960) - era filha de John Barrymore e Blanche Oelrichs. Foi criada em Paris, longe do pai, e perto da amargura da mãe. Foi enteada de Dolores Costello e meia-irmã de John Drew Barrymore. Trabalhou na Broadway e fez alguns filmes (Manpower - 1941; Eagle Squadron e Nightmare - ambos de 1942;  The Adventures of Mark Twain - 1944, e mais alguns). Foi casada com o ator Bramwell Fletcher (1904/1988, 17 anos mais velho que ela) entre 1942 e 1946, John Howard (janeiro a julho de 1947) e o também ator Robert Wilcox (1910/1955, que era violento e batia nela), entre 1950 e 1955. Diana perdeu o pai (de cirrose) quando tinha 21 anos, e a mãe quando tinha 29. Ela abusava do álcool e de drogas, e veio a falecer de overdose em 1960, quando tinha 39 anos...

* não encontrei nada sobre Dolores Barrymore (1930/)...


John Blythe Barrymore Drew Jr. (1932/2004) - foi o segundo filho de John Barrymore e Dolores Costello, e meio-irmão de Diana Barrymore. Em 1952, ele se casou com a atriz Cara Williams (1925/), com quem teve um filho, John Blyth Barrymore (1954/). O casamento durou até 1959. Em 1960, se casou com Gabriella Pallazoli, e não temos dados de até quando durou essa união. Em 1971, uniu-se a Jaid Barrymore (1946/) e teve uma filha: Drew Barrymore (1975/). Separaram-se em 1984. E finalmente, John se casou com a atriz Nina Wayne (1943/), com quem também teve uma filha, Brahma (Jessica) Blyth Barrymore. Ele fez alguns filmes, entre os quais Quebec (1951), High School Confidential (1958), The Pharaoh's Woman (1960) e Pontius Pilate (1962), entre outros. 

A Nova Geração


Quem representa o Clã Barrymore, atualmente, é a atriz Drew Barrymore (1975/), filha de John Blythe Barrymore Drew Jr., neta de John Barrymore e bisneta de Maurice Barrymore. Desde 1978 (De Repente, O Amor), ela está atuando em Hollywood, e já fez filmes como E.T.,  the Extra-Terrestrial  (1982), Irreconcilable Differences (1984), Cat's Eye (1985), Motorama (1991), Poison Ivy (1992), Bad Girls (1994), Batman Forever (1995), Scream (1996), The Wedding Singer (1998), Never Been Kissed (1999), Charlie's Angels (2000), Confessions of a Dangerous Mind (2002), Charlie's Angels: Full Throttle (2003), 50 First Dates (2004), Music and Lyrics (2007), entre outros...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Homenagem Ao Nahud 2 - Pola Negri, A “Femme Fatale"








Uma das maiores estrelas do cinema mudo, a polonesa POLA NEGRI (1897-1987) foi uma das mais exóticas estrangeiras nos primórdios de Hollywood. Conheço pouco seu trabalho, assisti apenas dois de seus 67 filmes – “Madame DuBarry / Idem” (1919)  e “Sumurun / Idem” (1920), ambos alemães e dirigidos pelo mestre Ernst Lubitsch -, mas me encantei com sua presença sedutora, senhora de si e vivaz. Quase todos os homens nesses dramas de época se apaixonam por ela, do filho do sheik ao rei francês Luis XV.  Vamp por excelência, suas ligações amorosas com Charles Chaplin (um escândalo alimentado pela imprensa sensacionalista, com manchetes que anunciavam um casamento que nunca chegou a ocorrer) e (segundo ela) com Rudolph Valentino manteve o seu nome em alta, mas após a morte do latin lover em 1926 sua fama diminuiu. Ao estrelar seu primeiro filme sonoro, dramática e excessivamente voluptuosa, ridicularizaram-na, fazendo com que voltasse para a Alemanha, onde um dos seus maiores sucessos, “Mazurka / Idem” (1935), de Willi Forst, tornou-se um dos filmes favoritos de Adolf Hitler. Sem um tostão, fugiu para a Riviera Francesa em 1941, antes da invasão nazista, e depois se mudou definitivamente para os Estados Unidos. Aposentou-se após o fracasso de “Casado Sem Casas / Hi Diddle Diddle” (1943), surgindo nas telas apenas para uma participação especial como Madame Habib em “O Segredo das Esmeraldas Negras / The Moon-Spinners” (1964), produção de Walt Disney. Nele, sua personagem dizia: "Sobrevivi a duas guerras, quatro revoluções e cinco maridos", praticamente retratando sua vida tempestuosa. 

Uma das heroínas do cinema mudo, nas telas era considerada uma vamp, que levava os homens que se aproximavam dela ao perigo e ao pecado. Mesmo com a reprovação de muitos pais de família, o perfil feminino da vamp fazia muito sucesso nos anos 1920. Era nas imagens do cinema que a platéia encontrava formas para os seus anseios interiores. O cinema e os tipos femininos reproduzidos no star-system circulavam em espaços que não se limitavam apenas as salas de exibição: nas conversas de bar, nas certidões de algumas crianças e em vários objetos de uso cotidiano (sapatos, maquiagens - através do “Pó de arroz Pola Negri”- e nas capas das revistas de maior circulação). A imagem da atriz, com roupas não convencionais, fumando, com um sorriso maroto, atuava como reflexo da mulher moderna e decidida. Ela foi modelo de inspiração para o comportamento das moças mais rebeldes.

Nascida na Polônia, POLA NEGRI teve uma vida confortável até que em 1905 seu pai se envolveu na luta de seu país pela independência e foi exilado para uma prisão na Sibéria, nunca mais sendo visto. A tranqüilidade material desapareceu, e ela e sua mãe se mudaram para as favelas de Varsóvia. A mãe trabalhava como cozinheira, enquanto ela passava o tempo aprendendo sozinha a dançar. Desejando se livrar da extrema pobreza, fez um teste e foi aceita para o Ballet Imperial. Como bailarina, mostrou-se ser uma talentosa promessa, até que contraiu tuberculose e se viu obrigada a finalizar sua curta carreira no mundo da dança. No entanto, entrou para a Academy Imperial of Dramatic Arts e se tornou uma atriz de teatro, estreando triunfante como Hedwig em “O Pato Selvagem”, de Ibsen. A I Guerra Mundial praticamente obrigou-a fazer filmes, já que os teatros poloneses foram desativados. Em 1917, teria a maior chance de sua vida ao ser convidada para trabalhar com o famoso Max Reinhardt, em Berlim. Com seu cabelo preto, olhos escuros e expressões intensas, logo seria uma popular estrela, fazendo uma bem sucedida parceria com Lubstich. Um desses filmes, “Madame DuBarry”, rebatizado como “Passion” nos EUA, fez dela uma sensação internacional. 

Um ano depois da super-estrela Mary Pickford – a “Namoradinha da América” - convidar Lubistch para dirigir “Rosita / Idem” (1923), POLA NEGRI foi contratada pela Paramount em 1923. Estrela incontestável, três fatos conspiraram para acabar com sua carreira norte-americana: o escândalo performático que ela armou no funeral de Valentino, em 1926, mudando a aceitação do público em relação a sua pessoa; o Código Hays de censura, nos anos 30, que perseguia estrelas abertamente eróticas; e, finalmente, seu sotaque. Na década de 50, cogitada para fazer o papel de Norma Desmond em “Crepúsculo dos Deuses /Sunset Boulevard” (Mary Pickford e Mae West também), Billy Wilder terminou por escolher Gloria Swanson. Grande atriz, embora vista por muitos apenas como um objeto sexual, ela sempre insistiu que teve um romance secreto com Valentino, embora muitos amigos do ator jurem que eles não tinham a menor intimidade. Indiferente aos descrentes, enviou uma fabulosa coroa de rosas vermelhas (no valor de 2 mil dólares) para ser colocado no caixão de Rudy, em Nova York, com o nome "Pola" em letras garrafais, o suficiente para ser lido em fotos impressas em jornais de costa a costa. 





Oitenta mil pessoas lotavam as ruas para acompanhar o velório de Rudolph Valentino.POLA NEGRI chegou com guarda-costas, um secretário particular e a imprensa, vestida de negro (no valor de US $ 3.000) e se atirando aos prantos no caixão do falecido. Em voz alta, disse que tinha sido pedida em casamento por Rudy, lamentando: "Meu amor por Valentino é o maior amor da minha vida. Eu o amo não como uma artista ama outro artista, mas como uma mulher ama loucamente um homem". Seus soluços, gritos histéricos e desmaios incitaram a multidão fanática ao motim, quebrando as janelas da casa funerária, danificado arranjos florais e ferindo muita gente. Tentando provar o seu amor pelo mito, ela voltou a Hollywood no trem que carregava o caixão do defunto. Em cada parada, saía para a plataforma traseira e dramaticamente desmaiava, aparentemente inconsolável. Se qualquer fotógrafo reclamava que tinha perdido o momento, ela convenientemente desmaiava uma segunda vez. Posteriormente, lembrou sua tristeza inconsolável em diversas coletivas de imprensa.

Obcecada pela publicidade, inclusive divulgando sua suposta rivalidade com outra estrela, Gloria Swanson - embora, na realidade, elas se davam muito bem - e caminhando com um tigre de estimação pela Sunset Boulevard, terminou por obscurecer o fato de que era uma excelente atriz, com um currículo de filmes interessantes.POLA NEGRI não tinha uma beleza convencional, e seus personagens desinibidos era algo novo. Hollywood tentou glamourizá-la, incentivando seu esnobismo. Em sua autobiografia, “Pola Negri: Memoirs of a Star”, a atriz mudou sua própria data de aniversário, rejuvenescendo alguns anos. Diversas outras afirmações estão em desacordo com relatos documentados, incluindo sua alegação de que sua mãe era nobre. Ao casar com o conde Eugene Dambski em 1919, usou seu título de Condessa em todas as oportunidades públicas, como se sua existência fosse além dos meros mortais. Separam-se em 1922, e em 1927 ela se casou com o príncipe Sergei Mdivani. Achando que tinha o direito divino de sua posição de poder e glória, regalava-se com a adoração dos fãs. Em 1931, abandonada pelo príncipe, que passou a mãe em boa parte de sua fortuna, reinventou-se na Alemanha. Com a carreira finalizada depois do período germânico, em 1948 conheceu uma milionária herdeira de poços de petróleo, Margaret "Margo" West. Passaram a namorar, vivendo juntas em Santa Mônica durante anos, colecionando valiosos objetos de arte e com intensa vida social. Em 1951, ela recebeu a cidadania norte-americana, e em 1957 o casal se mudou para a cidade natal de Margo, no Texas. Quando a amada morreu em 1963, deixou sua enorme fortuna para a veterana atriz. Ela passou os últimos vinte e cinco anos de sua vida distante do mundo artístico e faleceu aos 90 anos vítima de uma pneumonia. Em seu leito de morte, ao ser atendida por um médico jovem e bonito, que não sabia de sua reputação no passado, no melhor estilo Norma Desmond, fez pose de estrela de cinema e perguntou: "Como você não sabe quem eu sou?".

Pola e Lubitsch
Sinônimo de sofisticação e glamour, no seu auge a atriz ganhava US $ 10.000 por semana, gastando praticamente tudo em jóias, peles e na manutenção de um palácio em Los Angeles. Ela popularizou as unhas vermelho-vivo, turbantes e botas altas, e exigia que fosse chamada como “Madame Negri”. Em seus filmes, realçava os olhos profundos e castanhos usando uma maquiagem dramática. Raspou as sobrancelhas, pintando-as com duas linhas finas e pretas, em um arco que deixava seu olhar melancólico e trágico. Seus lábios finos eram enfatizados pelo batom escuro. MasPOLA NEGRI fez muitos inimigos em Hollywood ao denunciar a indústria local como um deserto cultural, declarando seu desprezo por tudo o que ela representava. Muitas vezes anunciou à imprensa que seu único refúgio era os livros e a música. O público começou a se cansar de sua vida melodramática, e sua imagem se converteu numa espécie de piada.

A era do cinema mudo se foi. Com ela, todas as estrelas da época. Divulgadas em manchetes de jornais, iluminadas em outdoors e tratadas com reverência, estão agora quase esquecidas. Talentos excepcionais como Norma Talmadge, Emil Jannings, Brigitte Helm e Nita Naldi são pouco lembrados hoje. A tragédia do cinema mudo é que de todos os filmes feitos na ocasião, não mais que 20% ainda existem, e menos ainda aqueles disponíveis para ser visto pelo público.POLA NEGRI é certamente uma das principais alegrias do cinema mudo. Sua presença na tela, sexy em todos os sentidos, é também forte e apaixonada. Foi ela, juntamente com Ernst Lubitch, que introduziu o sexo nas telas. Famoso por seu "Toque" que misturava humor inteligente e insinuações eróticas, confundindo a censura, o diretor criou muitas maneiras novas e inventivas para falar de sexo sem realmente mostrá-lo. Já Madame Negri foi capaz de ser mais sedutora com um olhar caprichoso que muitas atrizes com todo o corpo.


(Fontes: “Pola Negri: Memoirs of a Star”, de Pola Negri; “Hollywood Babylon”, de Kenneth Anger; “Os Filmes”, de Richard Griffith & Mayer Arthur; “1000 Que Fizeram Cem Anos de Cinema”, do The Times/Isto É, e “The Stars”, de Richard Schickel).



Em "Sumurun"
10 FILMES DE POLA NEGRI


CARMEN
(Idem, 1918)
 de Ernst Lubitsch

MADAME DUBARRY
(Idem, 1919)
de Ernst Lubitsch

SUMURUN
(Idem, 1920)
de Ernst Lubitsch

A BELA DIANA
(Bella Donna, 1923)
de George Fitzmaurice

PARAÍSO PROIBIDO
(Forbidden Paradise, 1924)
de Ernst Lubitsch

EAST OF SUEZ
(1925)
de Raoul Walsh

HOTEL IMPERIAL
(Idem, 1927)
de Mauritz Stiller

AMORES DE UMA ATRIZ
(Loves of na Actress, 1928)
de Rowland V. Lee

THREE SINNERS
(1928)
 de Rowland V. Lee

MADAME BOVARY
(Idem, 1937)
de Gerhard Lamprecht










quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

As Vamps do Cinema

No início do Século XX, o Cinema ainda era mudo (até o final da década de 20). Assim, as mãos e o rosto, principalmente os olhos, deveriam expressar o que a pessoa estivesse pensando, sentindo, planejando...E, nesse contexto, surgiram as "vamps", que eram as mulheres sensuais, com olhares lânguidos e expressivos. Abaixo, vamos conhecer um pouco mais essas "vamps" famosas:


Theda Bara (1885/1955): Theodosia Burr Goodman era de Ohio (EUA). Mas ela tinha origens polonesas e judias, em seu sangue. Em 1908, mudou-se para New York, com 23 anos. Nesse mesmo ano, estreou na Broadway, com a peça The Devil. Entre 1914 e 1926, Theda Bara participou de cerca de 40 produções cinematográficas. O mais famoso desses filmes foi Cleopatra (1917).


Louise Glaum (1888/1970): nasceu em Baltimore (Maryland), mas era filha de alemães. Louise começou a atuar em 1907, em Crucifixus (teatro). No cinema, ela estreou em 1912, em When the Heart Calls, mas começou a representar papéis de vamp em The Toast of Death. Ela ainda trabalhou até os anos 30 em cinema, e voltou aos teatros, nos anos 40 e 50. Morreu aos 82 anos, em 1970.


Musidora (1889/1957): Jeanne Roques nasceu em Paris (França) e foi criada por uma mãe feminista e um pai socialista. Aos 15 anos já escrevia e atuava nos palcos. Fez seu primeiro filme em 1914, mas foi nos filmes de Louis Feuillade que ficou famosa. Ela adotou o nome de Musidora ("dom das musas", em grego), e interpretou Irma Vep em Les Vampires e Diana Monti, em Judex. Trabalhou até os anos 20, e morreu em 1957, aos 68 anos...


Pola Negri (1897/1987): Apolonia Chalupec nasceu em Lipno, Rússia (atual Polônia). O pai dela, Juraj Chalupec, foi preso pelos russos e enviado para a Sibéria, por atividades revolucionárias, Apolonia foi com a mãe para Varsóvia, onde viveram em extrema penúria. Mesmo assim, ela conseguiu ingressar no Imperial Ballet de Varsóvia, que era patrocinado pelo Czar Nicolau II, e onde trabalhou Ana Pavlova. Mas um surto de tuberculose a obrigou a parar de dançar. Foi no sanatório, se recuperando da doença, que ela adotou o nome Pola Negri. Depois de curada, ingressou na Imperial Academia de Artes Dramáticas de Varsóvia. Sua estréia teatral foi em 1912, aos 15 anos. Ela se formou em 1914. Nesse mesmo ano, ela estreou no cinema, em Slave to her Senses. Em 1917, ela mudou-se para Berlim, onde conheceu Ernst Lubitsch, e fez alguns filmes com ele, em 1918, entre eles Carmen. Em 1919 fez Madame DuBarry, que fez enorme sucesso, na Europa e nos Estados Unidos. Esse sucesso fez com que Hollywood levasse Ernst Lubitsch e Pola Negri para perto da "capital do Cinema". Pola Negri chegou em 1922, aos 25 anos. A sua ida serviu de influência para que outras atrizes também migrassem para os EUA: Greta Garbo,  Marlene Dietrich, Ingrid Bergman, Sophia Loren...



Nos EUA, Pola Negri logo se tornou famosa, com suas unhas pintadas, seus turbantes e suas botas de pele. E também foi morar numa mansão, copiada da Casa Branca. Em 1923 ela fez Bella Donna, The Cheat e The Spanish Dancer. Mas sua carreira em Hollywood foi curta: em 1928, mudou-se para um castelo na França, para ter seu bebê, que posteriormente perdeu. Ela voltou ao cinema europeu, nas décadas de 30 e 40, quando finalmente parou. Morreu em 1987, com 90 anos...

Para saber mais: em 30/11/2010 já escrevi sobre esse assunto: 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

História do Cinema - Parte 17 (1907)


Fatos de 1907:

* os primeiros táxis com taxímetro começam a funcionar, em Londres:


* Robert Baden-Powell (1857/1941) promove o primeiro acampamento de escoteiros, também na Inglaterra;


* é formalizada a Tríplice Entente (Rússia, França e Inglaterra, em vermelho no mapa):



* Guglielmo Marconi faz a primeira transmissão de rádio à longa distância, entre Clifden (Irlanda, ponto A no mapa) até Glace Bay (Nova Escócia, Canadá, ponto B no mapa):



* os Irmãos Lumière desenvolvem o  Autochrome Lumière , primeiras fotos a cores:



Nascimentos:


Ray Milland 
(Reginald Alfred Truscott-Jones, 1907/1986)



Cesar Romero (Cesar Julio Romero Jr., 1907/1994)


Katharine Hepburn 
(Katharine Hoghton Hepburn, 1907/2003)


Laurence Olivier 
(Sir Laurence Kerr Olivier -
Barão Olivier de Brighton, 1907/1989)


Barbara Stanwyck (Ruby Stevens, 1907/1990)


Burgess Meredith 
(Oliver Burgess Merdith, 1907/1997)

Outros:

Thomas Edison tem 60 anos,  Georges Méliès tem 46 anos,  Auguste Lumière tem 45 anos e Louis Lumière tem 43 anos. Flo Ziegfeld tem 40 anos, Marie Dressler tem 39 Anos Anna Held tem 35 anos. Louis Feuillade tem 34 anosD. W. Griffith tem 32 anos,  Lionel Barrymore tem 29 anos. Alla Nazimova e Ethel Barrymore têm 28 anos. Tom Mix,  Mack Sennett e W. C. Fields tem 27 anos, Cecil B. DeMille tem 26 anos. John Barrymore  e Bela Lugosi têm 25 anos, Lon ChaneyDouglas Fairbanks e Walter Huston têm 24 anosEmil Jannings e Louis B. Mayer têm 23 anos,  Wallace Beery e Theda Bara têm 22 anos, Al Jolson  tem 21 anos, "Chico" Marx e Boris Karloff têm 20 anos, Maurice Chevalier, "Harpo" Marx e  F. W. Murnau têm 19 anos, Victor Fleming, Pearl White, Warner Baxter  e  "Charlie" Chaplin têm 18 anos.  Stan Laurel  e  "Groucho" Marx têm 17 anos, Oliver HardyErnst LubitschMary PickfordJack Warner e "Gummo" Marx têm 15 anos.  Leslie HowardHarold LloydMae West e Lilian Gish têm 14 anos. Norma Talmadge, John Ford e Jean Renoir têm 13 anos, Rodolfo Valentino e Buster Keaton têm 12 anos, Howard Hawks tem 11 anosMarion Davies, Pola Negri, Nita Naldi, Frank Capra e Edith  Head têm 10 anosSergei Eisenstein e Dorothy Gish têm 9 anos. Ramon Novarro, Gloria Swanson, Fred Astaire, Irving Thalberg e Humphrey Bogart têm 8 anos Luis Buñuel,  Spencer Tracy, Jean Arthur e Richard Hollingshead têm 7 anos. Clark Gable, "Zeppo" Marx, Gary Cooper, Walt Disney e Marlene Dietrich  têm 6 anosTallulah Bankhead, David O. Selznick, William Wyler, Norma Shearer, Leni Riefenstahl, Larry Fine e Margaret Hamilton têm 5 anos. Vincente Minelli, Bing Crosby, Bob Hope, Jeanette MacDonald, Claudette Colbert e "Curly" Howard têm 4 anos. Cary Grant, John Gielgud, Pedro Vargas, Jean Gabin, Peter Lorre, Greer Garson, Dick Powell e George Stevens  têm 3 anos Robert Donat, Joan Crawford, Joseph Cotten, Henry Fonda, Clara Bow, Myrna Loy e Greta Garbo têm 2 anos. John Carradine, Lon Chaney Jr., Madeleine Carroll, Lou Costello, Mary Astor, Roberto Rossellini, Billy Wilder, Janet Gaynor, Luchino Visconti e Louise Brooks tem 1 ano.


Filmes do Ano:


* em 1907, Michel Carré (1865/1945) escreve e dirige o primeiro longa-metragem europeu: L'Enfant Prodigue, que tem 90 minutos de duração. Neste mesmo ano, Sidney Olcott (1873/1949) dirige Ben-Hur, com duração de 15 minutos (trecho abaixo):